Sem
dúvida não é pela narrativa, nem pelo talento do autor, muito menos pela
originalidade, mas eu amo este livro. Aliás, vale destacar, que autor poderia
ter desenvolvido melhor o tema. Contudo, existe nos dois personagens principais
(os demais são tão insignificantes que mal nos damos conta da sua existência!)
um quê de sensibilidade que nos toca à alma. Eu já li duas vezes (ele, infelizmente,
é pequeno, daí a minha critica ao autor) e pretendo ler ainda mais vezes. Vale
à pena, depois de ler a obra, veja o filme.
...."Em quatro dias, ele deu-me
uma vida inteira, um universo, e deu consistência a todo o meu ser.
Nunca deixei de pensar nele, nem por um
momento."
Este livro poderia trazer uma análise sobre traição/adultério
feminino.
Poderia ser visto retratando uma vivência amorosa que é
sublimada em função da família.
Contudo, o que chama a atenção, e o que mais emociona é a
sincronicidade que faz nascer este amor – mesmo que tenha sido vivido
em quatro dias.
Ela uma dona de casa que vive numa fazenda com seu marido e
dois filhos adolescentes.
(Uma
filha que não a permite sequer escutar suas músicas, que muda a estação do
rádio como se ela (Francesca) nem existisse – (mãe não pode ter
prefêrencias musicais?)
Ele um fotógrafo que viaja pelo mundo em busca de fotos para
a revista que trabalha.
As chamas de uma paixão nascem da admiração.
O amor não se sustenta sem admiração mútua.
Ele viu nela um mulher forte, linda, sensual, companheira,
cúmplice, contudo, frustrada pela escolha que ela fez na vida, uma mulher
intensa, que adora o mundo (como ele também)
Ela representava para ele, a simplicidade, o amor pelo amor,
sem máscaras e com toda a sutileza da situação, do lugar que, segundo ele,
cheirava tão bem.
Ela tinha a mesma beleza como a que ele viu nas pontes
cobertas.
Pontes que muitas pessoas passavam sem se dar conta da beleza
que havia nela.
Ele era fotógrafo, e via o óbvio com outros olhos, sentia de
forma diferente as pessoas, a paisagem e o mundo em si.
Ela vê nele essa pessoa que ela também quis ser, divorciada,
livre e sem amarras. Solto pelo
mundo, descobrindo novas paisagens e novas experiências.
Depois de sua
morte, em seu diário, ela narra o que na vida
não teve coragem de fazer.
Mas ela queria que, pelo menos, depois de morta os filhos a
conhecessem de verdade.
Nossa alma quer que a gente viva sendo o que somos de verdade.
Mas isto nem sempre é possível. Representamos
vários papéis para a nossa sobrevivência e para, por que, não,honrar as
escolhas as quais fizemos, no caso dela,
o casamento, a família...
E sua história começa,quando ela (Francesca) estava sozinha...seus filhos e marido tinham
viajado....quatro dias ela teria só para ela, já que ela era completamente
envolvida/dedicada à família. Estes quatro dias foram capazes de marcá-la para sempre.
Robert chega à sua casa
perguntando como chegar numa ponte. Ponte
é o que liga uma margem a outra, um rio é como nossa vida, vamos indo em frente
levando conosco o que nos chega das margens, mas que um dia vai também
desembocar no grande mar do cosmos.
Ponte significa juntar o que está separado. União dos opostos.
Na psicologia Junguiana Animus (polaridade
masculina nas mulheres)
Anima (polaridade
feminina nos homens)
Juntar as duas margens, passar nesta ponte é estar pronta
para viver o amor....a paixão...a entrega.
Amar é conhecer o outro e conhecer a si mesmo (no outro).
Enquanto ela o leva pra fotografar esta ponte, ela fala com
toda sua espontaneidade, pois dentro dela havia um universo próprio, com humor,
emoção e delicadeza.
E um brilho único, que ninguém da família conseguia enxergar.
Mas, que Robert sente....e que o deixa fascinado.
Quando a sincronicidade acontece nossos arquétipos internos (que se encontram prontos,
se ativam). Nada é provocado.
Apenas acontece.
Francesca estava na meia
idade (metanóia), tinha sonhos que não havia vivido, sentimentos internos enterrados.
Ele era divorciado, experiente, sentia a vida em todo o seu
contexto – tinha integralizado sua polaridade feminina (anima) – por isto era sensível e estava pronto
pra alguém que o quisesse assim.
Ela precisava ser
ouvida, ser percebida. Desejava um homem sensível (arquétipo
interno constelado) e ele precisava ser amado. (evento externo)
A grande questão sobre a sincronicidade, para que se perceba
que está presente nos eventos que nos acontecem, é prestar atenção no significado.
Um evento sincronístico não está ligado por causa ou efeito (Ela não conhecia nem havia
planejado encontrar Robert....e nem ele....)
-....mas os dois internamente precisavam deste
encontro...deste amor....e foi a simultaneidade que se fez
presente...)
Se iriam ou não ficar juntos, não importa....importa sim é
que este encontro mudou suas vidas para sempre.
Foi por acaso que o marido viajou e que ela ficou sozinha,
por acaso ele bateu na porta dela justamente naquele dia, por acaso ele era um
homem sensível do jeito que ela já sonhara, por acaso ela era tudo o que ele
queria e precisava encontrar numa mulher depois de tantas experiências, por acaso
ele já havia estava já na metade da vida e ela também....
Por acaso ele se apaixonou pela cidadezinha que era a cidade
natal dela na Itália...
Sim, tudo isto aconteceu, mas se eles internamente não estivessem “prontos”, não teria acontecido...(é a nossa alma a grande
manipuladora).
E é aí que se encontra o aspecto terapêutico
da sincronicidade.
É a cura que ela
pode gerar na nossa vida, como atos da criação no tempo, que são catalisados
por catarses emocionais.
E como disse Robert para Francesca:
“– Os sonhos são bons por terem
simplesmente existido, independente de terem sido realizados”
Esta análise do filme foi baseada na Psicologia Analítica de Carl
Gustav Jung (Discípulo de
Freud ).
Fonte:http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdefilmes/1787163
ONDE ENCONTRÁ-LO
BARATÍSSIMO?
Se você não se incomoda em
ler um livro usado, vai encontrá-lo por uma bagatela: www.estantevirtual.com.br